Projeto une Músicos de todas as idades em torno da arte da sanfona
Sanfônicas Potiguares
Cláudio Araújo começou a se interessar pela música desde muito jovem, ainda na infância, aos 8 anos. "Passei um tempo com minha mãe que trabalhava na capital e morava em uma espécie de cortiço, onde tinha um senhor da marinha que tocava violão muito bem. Então, me apaixonei pela música e ganhei de um primo
que morava lá, um realejo com o qual eu comecei a tocar", destaca o música, hoje coordenador do projeto Sanfônicas Potiguares, em sua segunda edição.
Apaixonado pelo instrumento que hoje evidencia seu trabalho, Cláudio revela que já era flautista e tocava no Flauta Mágica quando começou a se interessar pela sanfona. "Uma vez escutei na rua da minha avó, onde morava a época, um som vindo de dentro de uma mercearia. Comecei a perguntar e descobri com meus colegas que era uma senhora evangélica conhecida como irmã Ritinha. Aproximei-me e de imediato comecei a perturbar a mulher para me ensinar. Como chegava a casa dela todos os dias, às 6h da manhã, ela resolveu me ensinar. Depois de uns 5 meses já estava tocando forró", diz.
Mas chamativa, muitas vezes, que outros instrumentos, a sanfona tem um lugar especial no gosto do nordestino. "Acho que a sanfona tem, em seu mecanismo de reprodução sonora, uma interação natural com o músico e com o público. É um instrumento que se vale do movimento, em sua execução, através do fole e estes movimentos, de certa forma, quebram a idéia de uma performance musical estática, causando um estreitamento com o público que, vibrante, sempre diz que o bom sanfoneiro é aquele que puxa bem o fole. Além disso, as variedades de timbre da sanfona possibilitam um enriquecimento das peças e favorecem a audição do ouvinte", explica o professor.
Sobre o cenário musical da cidade, Cláudio Araújo salienta que cresceu e usa como exemplo a disponibilização acadêmica de um curso de graduação em Música, na Uern. "Porém, ainda é muito difícil viver de música em Mossoró. Acredito que essa dificuldade é fruto da imposição de modelos musicais ideais por parte dos que sugerem a cultura. Para se ter uma idéia, a cidade do Natal tem hoje mais de 30 casas de shows pés de serra e em Mossoró nós não temos sequer uma. Uma cidade que tentou ser capital da cultura, não guarda nem mesmo os seus acervos históricos e nem registra a história da sua música. Um único documento que tem relatando o passado da área musical, que é um folheto escrito pela professora D'Alva Stella Nogueira Freire, estava perdido no acervo da Coleção Mossoroense. Assim, no meu ponto de vista, avançamos, mas não adianta fazer megaespetáculos que duram um dia e durante os outros, os artistas ficarem a mendigar o pão. É preciso reconhecer o músico artisticamente e financeiramente. Melhorar os salários dos regentes aprovados em concurso público e que nunca tiveram aumento, abrir concurso para compor os corpos instrumentais dos grupos que têm regentes, mas não tem músicos e possibilitar um mercado de trabalho mais digno aos que militam nessa área através de políticas culturais fiscais, em parcerias com empresas da cidade", diz Cláudio.
Cidades receberão projeto
O projeto Sanfônicas Potiguares surgiu através da formação da Orquestra Sanfônica de Mossoró e das aulas de acordeão da Escola de Música Pedro Ciarlini. "Tivemos a vontade de compartilhar com outros municípios do Estado, essa experiência maravilhosa de ensinar o acordeão. Assim, com a ajuda da Fundação José Augusto, na pessoa de Crispiniano Neto, escrevemos o projeto que foi aprovado e patrocinado pela Petrobras", destaca.
Dia 28, o projeto teve o lançamento da sua segunda fase e contou com a presença de músicos, além de ter, agora, a proposta de expansão para outras cidades. "Já a partir do dia 30 iniciaremos as aulas da segunda edição do projeto", reforça o música, salientando que os próximos passos são ministrar aulas e trabalhar "incessantemente no intuito de constituir um repertório e consequentemente formar novos músicos e novas Orquestras Sanfônicas nas cidades de Areia Branca e Angicos", frisa.
As oficinas nas cidades que recebem o projeto são dadas por professores que saem de Mossoró aos sábados com as aulas programadas e subdivididas em duas categorias: acordeão iniciante e acordeão avançado. "Assim, baseado no processo da transmissão oral e também no método híbrido de ensino, num corpo a corpo, os professores passam o repertório e, ao término de cada peça estudada, explicam a teoria que cada uma tem, fazendo assim o processo inverso ao dos conservatórios, possibilitando, prioritariamente, o contado com a prática e, posteriormente, com a teoria", destaca.
Com aproximadamente 60 anos, o projeto hoje é uma referência no Estado, quando o assunto é o ensino da sanfona. Para dirimir qualquer dúvida sobre a dificuldade do aprendizado do instrumento, o músico salienta que aprender a tocar sanfona não é tão difícil "se você for bem orientado". "Porém, se você for aprender sozinho é quase que impossível. Todos temem a quantidade de baixos da sanfona, mas quando você aprende a tocar em uma tonalidade, consequentemente aprendeu a tocar em todas as outras. A parte mais delicada é a de unir a mão direita com a esquerda, mas nós estamos desenvolvendo um método baseado no do violão, que não utiliza partituras, mas números e letras. Testamos este método o ano passado e os resultados foram excelentes", comenta.
Hoje, o mais velho dos alunos é um senhor de 88 anos. Antônio Bicoura e a mais jovem, uma garotinha de 6 anos, Alícia Naomi. Isso mostra que para aprender, entre outras coisas, não tem idade.
SAIBA MAIS - O projeto Sanfônicas Potiguares tem por base o ensino de sanfona às crianças, adolescentes, adultos ou idosos que tenham interesse em aprender a tocar os instrumentos através de um curso gratuito que nesta segunda etapa, ocorrerá simultaneamente em Areia Branca e Angicos. Em Angicos, as aulas serão realizadas na Casa de Cultura Popular de Angicos, nos turnos da manhã e da tarde, sempre aos sábados. Em Areia Branca as aulas ocorrerão na Rua Cel. Fausto, s/n Centro - Secretaria de Assistência Social, aos sábados pela manhã. Cada cidade contará com três músicos monitores que darão as aulas até o início de 2011.
Além disso, este ano a Orquestra Sanfônica também abriu seu espaço na net: www.sanfonicaspotiguares.blogspot.com Lá, os internautas podem encontrar materiais sobre a Orquestra Sanfônica, além de outras informações, como patrocinadores e prefeituras que apóiam a iniciativa.
Além do blog, o projeto também tem twitter: @proj_sanfonicas